O QUERER-FAZER E A TRIPLA JORNADA DO PROTAGONISTA
A política de Envelhecimento Ativo tem como pilares: a Saúde, a Participação e a Segurança. Apresentados como direitos, esses pilares são, entretanto, terceirizados para os idosos ativos. Cabe a eles o dever de:
1) cuidar da própria saúde
2) cuidar da segurança de familiares e parentes mais velhos
3) cuidar da manutenção de sua produtividade. Juntos, esses cuidados garantem sua posição de bônus para a sociedade.
Nesta tese, chamei os trabalhos implicados no cuidado de si, no papel de cuidador familiar e na manutenção da produtividade de Tripla Jornada do Protagonista, uma vez que a política convoca os idosos para assumirem o papel de protagonistas desse envelhecimento.
Na parte Querer-Fazer, apresento as táticas adotadas pelos participantes da pesquisa na interface com os três pilares propostos pela política de Envelhecimento Ativo. Entretanto, proponho uma inversão na ordem desses pilares a fim de reproduzir uma lógica identificada durante a etnografia. Retomando a perspectiva de que a autonomia se torna condição para o gozo da liberdade na Terceira Idade e frente à falta de expectativa com relação aos filhos como seus cuidadores no futuro, observou-se que, para os participantes da pesquisa, o autocuidado se mostra prioritariamente como uma obrigação, ao lado do cuidado com parentes e familiares. Já a participação é vivenciada por esses idosos como uma vontade, porque concretizada em novas formas de trabalho que vêm de encontro aos seus desejos e aos seus propósitos nessa fase da vida, já embebidos de uma moralidade local orientada para a utilidade.