FRASES E DEPOIMENTOS: O QUE DIZEM OS IDOSOS?

“É a desocupação. Eu me aposentei teoricamente em 91. Não é suficiente para os meus gastos. Arrumei uns bicos, trabalhei umas temporadas, e daí eu fico ansioso. Porque eu nunca consegui, eu nunca consegui me aceitar como ocioso em horário comercial. Para mim não é o problema noturno, saber que eu não tenho nada para fazer. Mas fazer esporte como eu fiz hoje, em uma segunda de manhã parar para fazer Pilates e tênis… isso é pecado, é coisa mortal

Participante da pesquisa quando perguntado o que o estressa hoje

“Ou você trabalha, aposenta, adoece e morre ou trabalha, trabalha, trabalha e morre, mas sem adoecer

Participante da pesquisa

“Não estou trabalhando no momento

Participante da pesquisa quando perguntado sobre sua ocupação

“Não tem reinvenção. Tem sobrevivência

Participante da pesquisa empreendedor criticando a ideia de que a reinvenção para o trabalho é um dos pontos positivos da velhice

“Fiz isso durante a 20 anos. 20 anos de voluntariado na carteira. Hoje não tenho vontade. Aí começou muito compromisso daqui, compromisso dali. Deu uma saturada. Eu estava começando a cansar da obrigatoriedade. Você é voluntário até quando você disse que é voluntário. Quando você disse que é voluntário você passa a ter obrigação, até que eu parei

Participante da pesquisa sobre seu período de voluntariado “na carteira”. Ao mesmo tempo que o voluntariado compensa as credenciais profissionais perdidas na aposentadoria, há a negociação entre o tempo livre dedicado à realização pessoal e as obrigatoriedade da “profissão’

“É duro perder o crachá

Participante da pesquisa sobre a perda da credencial profissional que pautou sua identidade ao longo da vida adulta

“É um limbo

Expressão comum entre os participantes da pesquisa que são jovens demais para a aposentadoria e considerado velhos demais pelo mercado de trabalho

“A gente não tem só necessidades, a gente tem desejos

Participante da pesquisa criticando os serviços dirigidos à velhice

“Monitoro tudo dela. Sou muito ciumento. Estou a 200 Km de distância de uma mulher que é muito ativa. Não sei se vou ganhar, mas estou indo atrás. Tô no páreo. Falei para um amigo que eu estou na concorrência. Produto especial tem concorrência. Tem que mostrar serviço”

Participante da pesquisa que monitora as atividades da namorada nas redes sociais

Levei dois anos para aceitar a usar o celular. Fui declarado inimigo público de informática entre 89 e 90. Porque na empresa que eu trabalhava criaram um departamento de informática que praticamente digitalizava os memorandos e orçamentos. Só que as coisas voltavam com erro. e eu falava só vai funcionar quando o engenheiro tiver no computador. Tinha uma pessoa que trabalhava para mim que era doutor no exterior e tinha uma planilha do Excel para fazer. E eu quis que ele fizesse e foi uma confusão… Não porque ele vai estragar o computador…. fez, foi criticado. E daí quando acabou o serviço, eu fiquei desocupado e na minha frente colocaram um 386. Foram 3 meses eu olhando para ele, ele olhando para mim, desligado. Eu vou precisar domar essa fera. Aí começou. Comprei computador. Aí empolguei, na época usava lótus, mexer planilha, texto. Comprei um para minha casa e me perguntaram: Mas você vai abrir uma empresa?”

Participante da pesquisa sobre a chegada dos computadores em seu ambiente de trabalho. A resistência à adoção de tecnologia é um dos argumentos apontados por empresários brasileiros para a dificuldade de retenção do contigente idoso nas empresas

Mas ela é muito nova. O que ela está fazendo aqui?”
“Está treinando para ser velha”

Diálogo entre participantes da pesquisa sobre a minha presença em um dos grupos observados durante a pesquisa

Nem bengalistas, nem maratonistas,
queremos ser protagonistas”

Participante da pesquisa sobre as inadequações das imagens que representam a velhice

Não tenho tempo. Agora só tenho tempo pra mim. Tanto que hoje eu falo assim, eu tenho segunda-feira livre. Livre entre aspas. Eu fico em casa, eu coloco roupa na máquina, vou no supermercado, faço comida, vou no médico, faço um exame, tudo na segunda-feira. Porque terça e quinta eu estou no programa [nome do programa de saúde dirigido à Terceira Idade]. Quarta-feira eu vou fazer Pilates e aulas de WhatsApp e informática. Sexta-feira eu vou fazer francês e vou na cabeleireira”

Participante da pesquisa apresenta sua rotina após a aposentadoria. Uma agenda cheia fornece provas de produtividade que recredencia o idoso como cidadão de São Paulo, onde o tempo ocioso é inaceitável

No Facebook, uma amiga postou um filme chamado ‘Envelhescência’. Aí eu assisti ao trailer… adorei, porque são seis personagens. São seis pessoas que vivem fora do padrão dos 60 anos: uma pessoa que aprendeu a surfar com 68, uma que fez faculdade com 75, fez a primeira tatuagem com 70 anos e tem o corpo inteirinho tatuado… personagens que para mim são inspiradores […]. Eu já tô pensando diferente… agora eu vejo o que eles fazem, alimentação, tudo que eu não faço, e vejo que eu tô atrasada… que já deveria ter feito há muito tempo

Participante da pesquisa sobre documentário que considera inspirador. Discursos e imagens como essas passam a prescrever um jeito correto de envelhecer

“Pessoal tá usando muito a palavra empoderamento. Então tudo ele tá falando que tá empoderando a sociedade, tá empoderando… ‘empoderar’ quer dizer foda-se, né?”

Participante da pesquisa sobre digitalização de serviços estatais

Tenho minha vida nesse aparelho. Ele é o melhor. Ele tem objetivos de atividade física para o dia e eu tento cumprir. Antes eu fazia sem muita regra. Diariamente tento atingir o número de passos proposto para não me sentir sedentária. Fico muito feliz quando supero o tempo da semana. Ele me dá até medalhas”

Participante da pesquisa sobre sua relação com seu aplicativo de monitoramento. Ela foi a única entrevistada a usar um aplicativo deste tipo para gerir ativamente a própria saúde

Os filhos não estão preocupados com a gente. Eles estão preocupados com o trabalho deles, com as coisas deles. Nossos filhos têm que seguir a vida deles. Eu me cuido pra não ser um peso. Eu e minha esposa, a gente se cuida pra não ser um peso. Eu sei que vai chegar uma hora que a gente vai até ser um peso. De repente, né? Sei lá. Mas pelo menos de saúde eu faço questão de me cuidar, para ter uma saúde melhor, eu cuido de coisa de comer, pra ter uma saúde boa”

Participante da pesquisa sobre a preocupação de cuidar da saúde para não ser um fardo para os filhos. Entre os participantes da pesquisa, é comum que eles não tenham expectativa quanto aos cuidados dos filhos na velhice

Meu propósito de vida é viver o momento. Não faço muitos planos. É aqui e agora, é ser feliz aqui nesse momento. Viver com fé e alegria e tomar conta da saúde. Peço a Deus, quero estar nesse mundo enquanto eu posso tomar conta de mim mesma […] morrer é destino. Eu tenho medo de ficar doente. O que eu tenho na minha vida é minha saúde. A única coisa que eu quero é uma boa saúde, um cantinho para mim e autonomia. Quem não toma conta de si mesmo nem merece viver.”

Participante da pesquisa sobre a autonomia e o medo de adoecer

“Porque a internet é meio assustadora, né? Ela vai pra um canto totalmente vasto, que você se perde ali, com tanta informação ali. Por exemplo, quando eu fui consultar uma coisa que ela [esposa tinha], nossa, era muita informação. Eu falei: não! Vou sair daqui. Vou perguntar direto pro médico e ele vai me dar a informação certa. Não gosto. Uma vez eu fiz isso e fiquei mais assustado do que me ajudou”

Participante da pesquisa com ensino fundamental sobre buscas de informações médicas na internet

Tem muita informação errada. Eu prefiro seguir a recomendação do médico. Eu tenho um dermatologista que funciona como médico de família e como psicólogo”

Participante da pesquisa com ensino superior completo sobre buscas de informações médicas na internet

Então é isso, pedi minha amiga para baixar, porque eu sou uma preguiçosa, sei lá… navega aí, se você souber. Eu não estou sabendo usar

Participante da pesquisa sobre a dificuldade de usar um aplicativo instalado por uma amiga. Fazer downloads é uma das principais dificuldades desses idosos. O constrangimento com a dificuldade é muitas vezes ocultado pelo argumento da preguiça ou da falta de tempo para aprender

“Eu percebo que essa geração aí lida com isso como se fosse uma coisa corriqueira. Então eles não percebem, eu vejo de um modo geral, e não só com relação aos meus filhos… é uma coisa tão natural deles e já está incorporada neles… e eles não aceitam essa ignorância, essa falta de interesse seu. ‘Eu vou te falar, mas você presta atenção porque senão da próxima vez você não vai saber’. Os filhos às vezes falam assim. Eu vejo pessoas falando assim com mãe, tia e com avó. Isso é natural… ‘ai… não acredito que você ainda não sabe fazer isso’. Você pergunta alguma coisa… eles pedem para você entrar no Google, ‘é simples, é só você entrar’, como quem diz, ‘não me enche o saco’”

Participante da pesquisa sobre a falta de paciência dos filhos. Muitos idosos procuram ajuda de profissionais em cursos abertos à Terceira Idade por esse motivo

Pelo amor de Deus, ela chega do serviço e eu quero falar alguma coisa com ela, ela já entra no quarto e não está nem ouvindo, ela entra com celular. Ela não tem tempo

Participante da pesquisa sobre a falta de disponibilidade dos filhos

“Não adianta perguntar para familiar, é que nem autoescola, você tem que ir para a escola

Participante da pesquisa e aluna de um dos cursos de WhatsApp para Terceira Idade

“Se você tem cabelo branco, você já é um alvo

Participante da pesquisa sobre assaltos e roubos de celulares em São Paulo

Eu raramente atendo no meio da rua, a não ser que eu esteja num grupo ou próxima de uma delegacia. Se eu vou ficar na rua por um período longo, eu deixo meu celular ligado. Mas eu aviso meus amigos próximos para me mandar mensagens de texto ou de voz pelo WhatsApp. Eu posso checar as mensagens em lugares onde eu tenho um certo grau de segurança, uma loja, uma farmácia. Ainda assim, isso não me impediu de ter um celular roubado

Participante da pesquisa sobre estratégia usada para se proteger de assaltos

Deus!

Participante da pesquisa, mãe, quando perguntada sobre quem cuidará dela na velhice

Se eu fico cansada, ele quer que eu continue. Eu paro de qualquer jeito. […] Você sabe, eu sou o tipo de pessoa que naturalmente faz tudo sempre certo. Eu não gosto de ser cobrada ou pressionada. Eu não sou preguiçosa

Participante da pesquisa sobre instrutor físico que a pressiona para fazer exercícios além dos seus limites

Ele é meu companheirão, aonde eu vou ele está comigo, toda hora respondo um ‘zap’ e quero ver as coisas, quero saber uma notícia. Você vai num lugar que tem que esperar, é fundamental, né?… sala de dentista, sala de médico, tem o joguinho ou estou fazendo a lição de inglês, estou fazendo alguma coisa né?”

Participante da pesquisa sobre seu smartphone. Entre esses idosos, os smartphones são usados para gerar provas de que estão sempre ocupados

Por isso que eu falo que agrega, você arruma companhia. Ele aproxima. Pessoas idosas ficam muito sozinhas, tem muitas que ficaram viúva e que hoje vivem sozinhas porque não querem viver na casa de ninguém e o celular ajuda, você fica ali no WhatsApp, às vezes de madrugada tem gente que fica ali num conversê

Participante da pesquisa sobre a importância dos amigos conectados nos grupos de WhatsApp

Eu tenho os meus cuidados, eu acho. Eu aprendi que está na hora de comer certo, só isso. Já comi de tudo que eu quis na vida. Agora é manter o funcional para não criar problemas

Participante da pesquisa sobre as pesquisas e dietas que segue para se manter saudável e ‘não criar problemas’

Chama um Uber pelo amor de Deus

Participante da pesquisa que não aceita mais desculpas das amigas que dizem que têm medo de voltar para cada à noite sozinhas

“No atual contexto econômico, você ter um filho empregado é a coisa mais importante… É uma coisa rápida, cinco minutos no máximo [referindo-se aos procedimentos de extração de pólipos da cabeça]. Eu não vou perturbar minha filha com isso. Ela tem que trabalhar. Antes eu ia sozinha e mentia que meu acompanhante estava chegando. Mas agora eles só fazem com acompanhante. Então eu chamo uma amiga minha

Participante da pesquisa sobre a preocupação de não atrapalhar o trabalho dos filhos. Para esses idosos, o trabalho dos filhos é sagrado. Por isso, suas necessidades são direcionadas aos amigos

Agora quando as minhas filhas me ligam para pedir que minhas netas fiquem comigo, antes elas me perguntam se eu estou livre, se não tenho algum programa para aquele dia. Então quando estou ocupada elas tentam a outra avó ou então dão um outro jeito. Eu não me importo de ficar com as minhas netas. Elas não me dão nenhum trabalho. Mas eu tenho uma vida, né?”

Participante da pesquisa sobre as negociações em torno do papel da avó

O que eu fiz? Eu deletei o grupo. Eu fico pensando que eu não precisava ter feito isso desse jeito, do mesmo jeito que ele não precisava ter dito aquilo daquele jeito. A gente estava se falando bem pelo WhatsApp, mas uma palavra de repente mudou tudo

Participante da pesquisa sobre as polarizações políticas no grupo de WhatsApp da família

Eu desempenhava uma função nobre, de atendimento à diretoria, que foi extinta com a fusão. Minha supervisora gostava muito de mim, então fez pressão para eu ser incorporado em outra área. Mas minhas responsabilidades eram muito diferentes, assim como a própria cultura da empresa, e eu era hostilizado pelos novos funcionários

Participante da pesquisa sobre idadismo no mercado de trabalho

O que eu vou fazer da vida? Não sei. Sei lá. Coisa de meia-idade de homem talvez. Você começa a sentir a finitude, parece que você está perto do fim, tem que achar um fim. A morte eu pensava mais. Naquela época eu pensava em morrer. Meu pai morreu aos 47 anos, em um mês, de um câncer fulminante. Então eu pensava que ia morrer. Hoje eu penso em fazer alguma coisa relevante. O legal é fazer uma coisa que seja relevante para as pessoas

Participante da pesquisa sobre a reinvenção do trabalho na velhice

Não decidi me aposentar, eu já estava fora do mercado há um tempo, porque a gente vai chegando a idade e o pessoal vai escolhendo o pessoal mais novo e a gente começa realmente a ficar fora do mercado […]. Isso é uma verdade que eu vou falar, hoje em dia um professional liberal, assim quando fica perdido, vai para o mercado de imóveis. Hoje o pessoal está indo para app de carro, mas na minha época não tinha, fui fazer o CRECI e comecei. No começo senti um baque muito grande, fiquei meio retraído, meio assim, vergonha mesmo. Perde a vergonha e vamos que vamos, colocava a gravata e saia andando. Eu continuei contribuindo até completar os 35 anos, né? Para aposentar, porque já tinha trabalhado 30. E eu falei não vou morrer na praia depois desse tempo todo. Eu fiquei no mercado imobiliário pagando como autônomo

Participante da pesquisa sobre as alternativas de trabalho na velhice

Você passa pelas mesmas coisas, mas tem um discernimento melhor sobre o que está acontecendo. Sobre o que é bom e o que é ruim. Quando você é mais novo, você simplesmente vai vivendo sem ter consciência do que está acontecendo

Participante da pesquisa sobre o que melhorou com a idade

Eu faço e eu gosto

Participante da pesquisa em resposta à neta que perguntou se ela ainda fazia sexo naquela idade

Nós queremos deixar um legado

Participante da pesquisa sobre a resistência desses idosos e sobre sua luta por respeito e visibilidade