AS REDES SOCIAIS E A BRECHA DA IMAGEM

Nesta parte, analiso como os smartphones e as redes sociais (e particularmente os grupos de WhatsApp) viabilizam zonas de invisibilidade que permitem condutas desviantes, consumos “irresponsáveis” e o exercício da resiliência.

 

 

FILIAÇÃO, VONTADE, IDENTIDADE

IMAGENS MORALIZANTES DA VELHICE ATIVA

• Configuram o imaginário da velhice
• Fornecem exemplos de condutas
• Ilustram didaticamente qual é o jeito correto de envelhecer

CONSUMO COMUNICA

• Filiação ao Envelhecimento Ativo

Ao compartilharem essas imagens em suas redes sociais e grupos de WhatsApp, os participantes da pesquisa comunicam que aderem ao paradigma do Envelhecimento Ativo

• Vontade

Ainda que não tenham aderido a hábitos saudáveis na prática, os participantes da pesquisa sinalizam uma vontade, uma intenção de assumirem o protagonismo na gestão de sua saúde e envelhecimento

• Identidade

A visibilidade conferida a essas imagens resulta na construção da identidade do idoso ativo, sinalizando que o participante da pesquisa se identifica com o paradigma

ZONAS DE INVISIBILIDADE: A PERFORMANCE COMO LASTRO

As redes sociais e os grupos de WhatsApp criam zonas de visibilidade onde a performance da identidade do idoso ativo pode se dar em um contínuo. Essas zonas se contrapõem às zonas de invisibilidade, onde o idoso pode se dar a hábitos não saudáveis ou para onde o idoso pode se retirar para exercer a resiliência. É, pois, onde encontra tempo e espaço necessários para recuperar seu estado saudável e produtivo sem comprometer sua reputação de biocidadão, de idoso ativo e de cidadão produtivo de São Paulo.

CONDUTAS DESVIANTES, CONSUMOS “IRRESPONSÁVEIS”

“Velho come feijoada, mas posta a foto da gelatina”

PARTICIPANTE DA PESQUISA

Os hábitos e consumos considerados não saudáveis podem se manter na zona dos bastidores enquanto aquilo que os participantes da pesquisa identificam como o que DEVE ser feito no compromisso com o envelhecimento saudável ganha visibilidade nas redes sociais.

Isso permite que os participantes da pesquisa exercitem seu QUERER sem comprometer sua identidade e reputação como idoso ativo.

EXERCÍCIO DA RESILIÊNCIA

“Estava organizando uma viagem”

PARTICIPANTE DA PESQUISA

As fragilidade e declínios físicos são ocultados pelos participantes da pesquisa. Nessas situações, eles se retiram das atividades presenciais e concentram sua atuação nos grupos de WhatsApp relacionados a essas atividades. Com isso, retirando o corpo que pode ser alvo de julgamento, eles ganham tempo e espaço para o exercício da resiliência sem comprometer sua identidade e reputação de idoso ativo, saudável e produtivo. Ao se recuperarem, os participantes da pesquisa retornam às atividades presenciais.

RESILIÊNCIA COMO TÁTICA DE SOBREVIVÊNCIA

“É um limbo”

PARTICIPANTE DA PESQUISA

Retomando as três camadas de moralidades que definem expectativas e responsabilidades na manutenção do estado saudável e produtivo, proponho que o exercício da resiliência seja tática de sobrevivência visando a manutenção da posição de bônus como aquela que garante a permanência do idoso em sociedade.

• O Biocidadão

Na expectativa de que o cidadão cuide de sua saúde e bem-estar de maneira a não onerar o estado e a sociedade em desenvolvimento.

• O Idoso Ativo

Na expectativa de que não demande recursos, mas seja recurso para a sociedade.

• O Cidadão de São Paulo

O corpo saudável é o corpo apto para o trabalho, condição para a presença em São Paulo, onde inutilidade é vista como falta de caráter.